Por Filipe Gonçalves, Cléber Cândido e Roberta Giacomoni, SP1 e G1 SP — São Paulo


Sindicato denuncia problemas na contratação de médicos para ao hospital de campanha

Sindicato denuncia problemas na contratação de médicos para ao hospital de campanha

Médicos estão reclamando da infraestrutura e dos contratos de trabalho feitos no hospital de campanha do Anhembi, na Zona Norte de São Paulo. Os especialistas integram a linha de gente no combate ao coronavírus. Eles atendem os pacientes com a doença.

Fotos tiradas pelos profissionais de saúde mostram funcionários descansando de maneira improvisada, durante um plantão noturno. As imagens fazem parte de uma denúncia do sindicato dos médicos de São Paulo.

A categoria ainda denunciou ao Ministério Público do Trabalho (MPT) a suspeita de fraude na contratação dos funcionários.

Por falta de espaço, alguns chegam a dividir a mesma cama. Outros dormem em sofás e até no chão.

Conversas em um grupo de mensagens, obtidas pelo SP1, mostram que funcionários já tinham reclamado dos problemas para a administração do hospital.

Em uma das conversas, o profissional fala com um coordenador. Pergunta se tem alguma posição sobre as camas.

O coordenador diz que estão vendo a questão da "roupa de cama". O funcionário completa: “A situação está chata no plantão noturno, gente guardando cama”.

Em outra mensagem, um dos funcionários diz que só teriam sete camas pra 19 plantonistas.

E um colega questiona: “Vamos dividir as camas que os outros colegas dormiram?”

Além dos problemas dentro do Anhembi, os profissionais da saúde que trabalham no hospital de campanha também denunciam a forma como os contratos de trabalho foram feitos.

Segundo os médicos, as organizações sociais que administram o hospital terceirizaram a contratação para fraudar a lei trabalhista.

No começo de maio, o sindicato dos médicos de São Paulo já havia denunciado ao secretário Municipal da Saúde, Edson Aparecido, que profissionais eram contratados de forma irregular.

Segundo o sindicato, as duas organizações sociais que administram o hospital, o Iabas e a SPDM, repassaram a contratação dos médicos para uma outra empresa, a OGS Participações Limitada.

A OGS, por sua vez, repassou a responsabilidade para uma quarta empresa.

Pela denúncia, para que os médicos fossem contratados, eles tinham que adquirir cotas de participação das empresas do grupo OGS e assinar uma autorização pra que os lucros fossem divididos.

De acordo com o sindicato, isso representa uma fraude na legislação trabalhista, previdenciária e fiscal.

O hospital de campanha do Anhembi começou a funcionar no dia 11 de abril. Tem capacidade para 1.800 leitos, mas atualmente, nem a metade foi utilizada.

Vídeos gravados no final de semana mostram muitos leitos vazios. Alguns até sem colchões.

Segundo o último balanço da Secretaria Municipal da Saúde, o hospital está com 348 pacientes internados.

Sendo 330 em enfermaria e 18 em leitos de estabilização, com suporte de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

O que dizem os citados

Procurados pela reportagem, os órgãos informaram o seguinte:

O Iabas informou que contratou a empresa Saúde Completa, Pronto Socorro e Clínica Médica (SPDM) do grupo OGS para fornecer mão de obra médica. De acordo com o Instituto a escolha foi porque a empresa tem um número grande de profissionais à disposição. E que existem locais suficientes para o descanso dos profissionais em cada plantão, desde que seja respeitada a escala de trabalho.

A SPDM informou que os médicos contratados pelo grupo OGS passaram por um rigoroso processo de seleção. E que tem protocolos para garantir o funcionamento das instituições contratadas e que segue a lei trabalhista. E que oferece toda a estrutura necessária para o descanso dos profissionais.

A prefeitura de São Paulo informou que a contratação dos funcionários e a fiscalização dos contratos é de responsabilidade das organizações de saúde que administram o hospital. Em relação às áreas de descanso, o município alega que tem vagas gratuitas num hotel próximo ao Anhembi, todos os dias, para os profissionais.

O Grupo OGS informou que ainda não tem nenhuma obrigatoriedade de participação na empresa por parte dos profissionais médicos. E que eles são convidados a integrar a sociedade. Quando formalmente integrantes do quadro de sócios, os médicos assinam documentos com relação à sociedade e à empresa. Sem esses documentos não seria possível compor o quadro de sócios.

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