Sindicato denuncia problemas na contratação de médicos para ao hospital de campanha
Médicos estão reclamando da infraestrutura e dos contratos de trabalho feitos no hospital de campanha do Anhembi, na Zona Norte de São Paulo. Os especialistas integram a linha de gente no combate ao coronavírus. Eles atendem os pacientes com a doença.
Fotos tiradas pelos profissionais de saúde mostram funcionários descansando de maneira improvisada, durante um plantão noturno. As imagens fazem parte de uma denúncia do sindicato dos médicos de São Paulo.
A categoria ainda denunciou ao Ministério Público do Trabalho (MPT) a suspeita de fraude na contratação dos funcionários.
Por falta de espaço, alguns chegam a dividir a mesma cama. Outros dormem em sofás e até no chão.
Conversas em um grupo de mensagens, obtidas pelo SP1, mostram que funcionários já tinham reclamado dos problemas para a administração do hospital.
Em uma das conversas, o profissional fala com um coordenador. Pergunta se tem alguma posição sobre as camas.
O coordenador diz que estão vendo a questão da "roupa de cama". O funcionário completa: “A situação está chata no plantão noturno, gente guardando cama”.
Em outra mensagem, um dos funcionários diz que só teriam sete camas pra 19 plantonistas.
E um colega questiona: “Vamos dividir as camas que os outros colegas dormiram?”
Além dos problemas dentro do Anhembi, os profissionais da saúde que trabalham no hospital de campanha também denunciam a forma como os contratos de trabalho foram feitos.
Segundo os médicos, as organizações sociais que administram o hospital terceirizaram a contratação para fraudar a lei trabalhista.
No começo de maio, o sindicato dos médicos de São Paulo já havia denunciado ao secretário Municipal da Saúde, Edson Aparecido, que profissionais eram contratados de forma irregular.
Segundo o sindicato, as duas organizações sociais que administram o hospital, o Iabas e a SPDM, repassaram a contratação dos médicos para uma outra empresa, a OGS Participações Limitada.
A OGS, por sua vez, repassou a responsabilidade para uma quarta empresa.
Pela denúncia, para que os médicos fossem contratados, eles tinham que adquirir cotas de participação das empresas do grupo OGS e assinar uma autorização pra que os lucros fossem divididos.
De acordo com o sindicato, isso representa uma fraude na legislação trabalhista, previdenciária e fiscal.
O hospital de campanha do Anhembi começou a funcionar no dia 11 de abril. Tem capacidade para 1.800 leitos, mas atualmente, nem a metade foi utilizada.
Vídeos gravados no final de semana mostram muitos leitos vazios. Alguns até sem colchões.
Segundo o último balanço da Secretaria Municipal da Saúde, o hospital está com 348 pacientes internados.
Sendo 330 em enfermaria e 18 em leitos de estabilização, com suporte de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
O que dizem os citados
Procurados pela reportagem, os órgãos informaram o seguinte:
O Iabas informou que contratou a empresa Saúde Completa, Pronto Socorro e Clínica Médica (SPDM) do grupo OGS para fornecer mão de obra médica. De acordo com o Instituto a escolha foi porque a empresa tem um número grande de profissionais à disposição. E que existem locais suficientes para o descanso dos profissionais em cada plantão, desde que seja respeitada a escala de trabalho.
A SPDM informou que os médicos contratados pelo grupo OGS passaram por um rigoroso processo de seleção. E que tem protocolos para garantir o funcionamento das instituições contratadas e que segue a lei trabalhista. E que oferece toda a estrutura necessária para o descanso dos profissionais.
A prefeitura de São Paulo informou que a contratação dos funcionários e a fiscalização dos contratos é de responsabilidade das organizações de saúde que administram o hospital. Em relação às áreas de descanso, o município alega que tem vagas gratuitas num hotel próximo ao Anhembi, todos os dias, para os profissionais.
O Grupo OGS informou que ainda não tem nenhuma obrigatoriedade de participação na empresa por parte dos profissionais médicos. E que eles são convidados a integrar a sociedade. Quando formalmente integrantes do quadro de sócios, os médicos assinam documentos com relação à sociedade e à empresa. Sem esses documentos não seria possível compor o quadro de sócios.